O relacionamento de Michel e Marcela Temer faz com que pese sobre ele
mais uma dentre tantas acusações: o interino encara mulheres como
troféus, nada além disso.
Afirmo isso porque um homem de mais de 60 anos que se casa com uma
quase adolescente não está movido tão somente pelo amor – nestes tempos,
até mesmo o amor precisa ser politizado. O que o move é a ânsia de
afirmar-se como macho provedor, capaz de carregar uma mulher dita
perfeita a tiracolo, como um belo acessório.
Imagine uma mulher de 19 anos que conhece um homem de 62. Imagine que
esta mulher vê neste homem a sua grande chance de felicidade: uma vida
maravilhosa, rodeada de empregados, roupas de grife. Só que essa mulher
mulher acaba privada de outras escolhas que pudesse fazer na vida.
Não foi Michel Temer que privou Marcela, a jovem sonhadora de
Paulínea, de outras escolhas: foi a sociedade patriarcal, que lhe disse,
desde muito cedo, que seu sonho mais ambicioso deveria ser casar-se com
um homem “bem-sucedido” (entre muitas aspas).
É uma ambição mesquinha, eu diria, mas a cada um cabem as próprias escolhas.
Os homens – os de direita e os de esquerda – podem até acreditar que
Marcela não foi vítima de qualquer abuso. A própria Marcela deve
acreditar piamente nisso, mas a verdade é que uma mulher que se casa com
alguém 43 anos mais velho – e, neste ponto, peço licença para julgar o
“amor” alheio – só pode estar movida pelo desejo de ser aceita da única
maneira que uma mulher é aceita nesta sociedade: à sombra de um homem
“poderoso”.
O que não devemos esquecer é que, com 19 anos, uma mulher não conhece
ainda nada da vida, principalmente se viveu em uma cidade interiorana
desde que nasceu. Suas escolhas estão pautadas no pouco que conhecem, no
que os outros esperam delas, no que elas acreditam ser o sucesso – para
Marcela, Michel é o sucesso.
Paciência.
O fato é que um homem que exibe orgulhosamente uma esposa quarenta e
seis anos mais jovem – imaginem, de relance, se Dilma fosse casada com
um homem 43 anos mais jovem! – não encara o casamento como uma união,
mas como um negócio, um jogo de ego e autoafirmação.
Para um homem que mantém sua bela esposa numa coleira invisível, não
existe companheirismo e não existe horizontalidade: existe apenas o
casamento subserviente, tal qual no século XX, e eu não confiaria em um
homem que mantém esse tipo de relacionamento nem para segurar a porta do
elevador, quanto mais para governar o meu país.
Barack Obama, por exemplo, tem uma esposa com idade próxima à sua,
que mantém, livremente, a própria identidade e toca, sozinha, os
próprios projetos sociais – inclusive de cunho feminista – enquanto
Marcela Temer é apenas a bela de estimação de seu marido.
Esta é a nítida diferença entre ambas: Michelle existe, enquanto
Marcela é apenas objeto decorativo utilizado ardilosamente para limpar a
imagem – como se fosse possível – de seu homem.
Nosso país é governado por um homem que não acredita na necessidade
de mulheres em seu Ministério e encara o casamento como um mero
garantidor do status de macho-alfa.
Michel Temer é o nítido retrato do retrocesso em todos os aspectos.
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