domingo, 11 de março de 2018

Alguns laços humanos não dão samba

                                                          Por Denise Araujo
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Na ficção: Na novela "Amor à Vida", Félix sofre por causa de sua relação com o pai César,  que sempre desprezou o filho e não aceita sua orientação sexual.

 Não são os laços de sangue, os acordos matrimoniais ou quaisquer outras convenções sociais e relacionais que aproximam as pessoas, mas os laços de afinidade. Uma verdade dura? Talvez, mas sinto que é assim na prática. Quando criança, ressentia do fato de parte da família residir longe e quase nunca manter contato, mas hoje entendo que é assim mesmo. Compreendo inclusive a reciprocidade da ausência, pois eles e eu não nos procurávamos. As pessoas mantêm contato com os familiares que querem, de que mais gostam, e não com todos da família.
          Quem tenta forçar relacionamentos entre pessoas simplesmente por serem familiares ou consortes de um mesmo grupo social o faz porque não sacou que está forçando a barra. Nas escolas, nos clubes, nas igrejas ou onde quer que seja é do mesmo jeito, há sempre os grupos formados. Há quem diga que existe até a possibilidade de gostar mais de um filho do que de outro, a depender da forma como esse filho comporta-se na vida ou da maneira com que cuida dos pais. Imagina então o que não acontece entre estranhos.
       Essas aproximações e esses distanciamentos muitas vezes são involuntários. Por que permanecemos amigos daquela pessoa cinco anos depois dos demais do grupo terem se distanciado? Por que temos a impressão de que gostamos mais de certos amigos do que de nosso irmão? Por que temos aversão aquele parente que é tão próximo, como um tio ou um primo, por exemplo? Por que amamos aquele que racionalmente não queríamos amar?
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          Os sentimentos são naturais, humanos. Emoções brotam do coração, vêm do íntimo. A amizade é algo que existe quase organicamente, pois – tal qual o amor – acontece quando duas pessoas encontram-se e decidem partilhar da mesma estrada, cuidando para o fortalecimento mútuo. O amor, então, nem se fala. Figurinha mítica que no início é poesia e tormenta. Haja ciência comportamental para explicar a afinidade e o apego atroz que sentimos por alguém, mesmo sem nenhum motivo aparente. Sentimentos não se explicam totalmente e nem sempre comunicam-se . Posso morrer de dar atenção a alguém e receber desprezo em troca. Reciprocidade nem sempre é algo motivado.
          Compreender essa realidade tão simples leva-nos a sofrer algumas escalas a menos. Diminuímos os julgamentos e não achamos mais que muitos ao nosso redor são frios. Deixamos de achar que algumas pessoas deveriam naturalmente ser mais próximas, quando na verdade não é uma regra absoluta (aliás, nada é). Pessoas não são encaixáveis. Seus sentimentos, muito menos. Cada um apega-se com o que quer. Isso é próprio da complexidade humana. Somos diferentes. Alguns são de Marte, outros de Vênus. Alguns são apegados a padrões, outros são anárquicos. Alguns são metódicos até nos pensamentos, outros vão com a brisa. Alguns perdem a paz por dez reais, outros sentem muito prazer em poder partilhar o pouco que possuem. Não dá para pensar que é possível conjugar todos esses tipos humanos e suas peculiaridades por consanguinidade ou qualquer outro “dever ser”. Esses laços humanos não dançam. Não dão samba.
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