Vamos adotar a simplicidade como caminho?
Algumas transcrições da palestra de Jorge Mello (monge zen budista) no TED/ Pelourinho-BA
A simplicidade não é o oposto
da complexidade. Na verdade, ela é irmã da complexidade. É uma característica
da vida. É o antídoto e o oposto da complicação. São coisas diferentes.
Nós seres humanos sofremos de
uma síndrome progressiva, contagiosa, e hoje no mundo é endêmica: compliquite
complicosa. Está enraizada na vida humana moderna. Queremos sempre buscar o
difícil e o complicado. As coisas devem ser sempre complicadas, e isso não é bom.
A primeira coisa que descobrimos
quando adotamos a simplicidade em nossa vida é que a vida é maravilhosa. É
quando não controlamos a vida. Quando optamos pela simplicidade a vida
oferece-nos mais: saúde, liberdade de opção, contentamento, sentido, enfim, alegria por simplesmente estar vivo. Não significa viver sem infelicidades,
problemas e circunstâncias adversas, entretanto.
O que importa na vida não tem
preço, tem valor. Uma vida simples oferece mais sentido.
Tirar o se e o quando antes
de adotar a simplicidade como direcionadora de vida.
Vamos modificar aquilo em que podemos interferir: nós mesmos. Vamos lá?
Energia: Respirar
consciente e lentamente. Nós delegamos o poder da nossa vida a algo que não está sob
nosso controle. Precisamos nos nutrir de melhor forma. Comer menos: é bom para
nosso organismo, para o meio ambiente e para nosso bolso.
Movimento: Em regra geral, faça.
Caminhe ou ande de bicicleta ao invés de outros meios, sempre que possível.
Pausas são parte da vida. Nosso coração faz pausas. A natureza faz pausas.
Entretanto, nossa cultura criou essa ideia de que não podemos ter pausa,
devemos sempre fazer algo. Na natureza nada funciona assim. Quando
desarmonizamo-nos desse ritmo, a nossa vida torna-se imensamente complicada.
Cultura/Educação- Vivemos uma
monocultura, que tem uma ciência como primaz, a economia. Não é ofensa chamar
alguém de desonesto, mas é chamá-lo de mal-sucedido. Se pensarmos em pensadores
que estruturaram essa visão de mundo, encontramos filósofos como Turô, que diz: “
A grande maioria da humanidade vive em silencioso desespero. E quando isso
assume o ar de resignação, então o desespero já é crônico”. Essa cultura que
faz com que seres humanos acreditem que não nasceram para ser felizes, que nasceram
para produzir mais, para ter mais e para viver cada vez menos é uma cultura que
deve ser questionada. E naturalmente um dos fenômenos que nutrem essa cultura é
o processo chamado educação, quando legou-se à escola e aos professores toda a
educação das pessoas. A educação deve começar e passar a vida inteira pela
comunidade, sem isso sistema educacional nenhum no mundo resiste. Precisamos resgatar
o poder educacional das comunidades.
Comunicação: A verdadeira violência começa nos fenômenos comunicacionais. Quando
tenho necessidades e elas não são atendidas, recorro à violência para que elas
sejam atendidas. Isso pode ser instrumentado nas pessoas por um instrumento da
cultura e da educação, que é a arte. Enquanto ser humano e enquanto seres da
sociedade devemos investir na arte. Ela traz a dimensão de que vamos além dessa
limitação de que tudo deve ser explicado, que tudo nesse mundo é linear e que
apenas a cultura cognitiva, intelectual e racional pode beneficiar o ser
humano. Nesse nível precisamos nos entregar, perder o controle, apenas viver
uma experiência estética e não ascéticaa de abrir mão de coisas. A vida simples
não nos pede para abrir mão de coisas, mas pede para desejar mais qualidade,
logicamente em detrimento da quantidade. Qualidade, e não
números.
Relações Interpessoais – As relações
surgem de forma simultânea e interdependente. Lembremos sempre que nós fazemos
parte dessas relações, portanto a nossa responsabilidade nelas.
Há a necessidade de formar a massa crítica, que é
um grupo de pessoas que faz a diferença, ou seja, cada um de nós que comprometa-se de
alguma forma com a qualidade de vida efetiva, que não tem nada a ver com
condição de vida. A pessoa que compromete-se no sentido de realmente assumir a
sua vida, examiná-la, e fazer mudanças significativas no termo da qualidade.
Não importe-se com coisas grandiosas, pois o importante é dar pequenos passos
com motivação grandiosa. Quando tempos uma grande motivação, não importa o
tamanho da obra, ela inspirará, ela transformará a realidade onde nós estamos e
muito além, onde nem percebemos.
Não precisamos de nenhum
misticismo para transformar a realidade. Não precisamos de heróis e de heroínas,
precisamos de reais seres humanos.
Para ver o vídeo, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=BjZ52Mlo9Fo
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