domingo, 16 de abril de 2017

Vamos adotar a simplicidade como caminho?

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Vamos adotar a simplicidade como caminho?

Algumas transcrições da palestra de Jorge Mello (monge zen budista) no TED/ Pelourinho-BA



       A simplicidade não é o oposto da complexidade. Na verdade, ela é irmã da complexidade. É uma característica da vida. É o antídoto e o oposto da complicação. São coisas diferentes.

       Nós seres humanos sofremos de uma síndrome progressiva, contagiosa, e hoje no mundo é endêmica: compliquite complicosa. Está enraizada na vida humana moderna. Queremos sempre buscar o difícil e o complicado. As coisas devem ser sempre complicadas, e isso não é bom.

       A primeira coisa que descobrimos quando adotamos a simplicidade em nossa vida é que a vida é maravilhosa. É quando não controlamos a vida. Quando optamos pela simplicidade a vida oferece-nos mais: saúde, liberdade de opção, contentamento, sentido, enfim, alegria por simplesmente estar vivo. Não significa viver sem infelicidades, problemas e circunstâncias adversas, entretanto.

       O que importa na vida não tem preço, tem valor. Uma vida simples oferece mais sentido.
Tirar o se e o quando antes de adotar a simplicidade como direcionadora de vida.

       Vamos modificar aquilo em que podemos interferir: nós mesmos. Vamos lá?

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Energia: Respirar consciente e lentamente. Nós delegamos o poder da nossa vida a algo que não está sob nosso controle. Precisamos nos nutrir de melhor forma. Comer menos: é bom para nosso organismo, para o meio ambiente e para nosso bolso.

Movimento: Em regra geral, faça. Caminhe ou ande de bicicleta ao invés de outros meios, sempre que possível. Pausas são parte da vida. Nosso coração faz pausas. A natureza faz pausas. Entretanto, nossa cultura criou essa ideia de que não podemos ter pausa, devemos sempre fazer algo. Na natureza nada funciona assim. Quando desarmonizamo-nos desse ritmo, a nossa vida torna-se imensamente complicada. 

Cultura/Educação- Vivemos uma monocultura, que tem uma ciência como primaz, a economia. Não é ofensa chamar alguém de desonesto, mas é chamá-lo de mal-sucedido. Se pensarmos em pensadores que estruturaram essa visão de mundo, encontramos filósofos como Turô, que diz: “ A grande maioria da humanidade vive em silencioso desespero. E quando isso assume o ar de resignação, então o desespero já é crônico”. Essa cultura que faz com que seres humanos acreditem que não nasceram para ser felizes, que nasceram para produzir mais, para ter mais e para viver cada vez menos é uma cultura que deve ser questionada. E naturalmente um dos fenômenos que nutrem essa cultura é o processo chamado educação, quando legou-se à escola e aos professores toda a educação das pessoas. A educação deve começar e passar a vida inteira pela comunidade, sem isso sistema educacional nenhum no mundo resiste. Precisamos resgatar o poder educacional das comunidades.

Comunicação: A verdadeira violência começa nos fenômenos comunicacionais. Quando tenho necessidades e elas não são atendidas, recorro à violência para que elas sejam atendidas. Isso pode ser instrumentado nas pessoas por um instrumento da cultura e da educação, que é a arte. Enquanto ser humano e enquanto seres da sociedade devemos investir na arte. Ela traz a dimensão de que vamos além dessa limitação de que tudo deve ser explicado, que tudo nesse mundo é linear e que apenas a cultura cognitiva, intelectual e racional pode beneficiar o ser humano. Nesse nível precisamos nos entregar, perder o controle, apenas viver uma experiência estética e não ascéticaa de abrir mão de coisas. A vida simples não nos pede para abrir mão de coisas, mas pede para desejar mais qualidade, logicamente em detrimento da quantidade. Qualidade, e não números.

Relações Interpessoais – As relações surgem de forma simultânea e interdependente. Lembremos sempre que nós fazemos parte dessas relações, portanto a nossa responsabilidade nelas.

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       Há a necessidade de formar a massa crítica, que é um grupo de pessoas que faz a diferença, ou seja, cada um de nós que comprometa-se de alguma forma com a qualidade de vida efetiva, que não tem nada a ver com condição de vida. A pessoa que compromete-se no sentido de realmente assumir a sua vida, examiná-la, e fazer mudanças significativas no termo da qualidade. Não importe-se com coisas grandiosas, pois o importante é dar pequenos passos com motivação grandiosa. Quando tempos uma grande motivação, não importa o tamanho da obra, ela inspirará, ela transformará a realidade onde nós estamos e muito além, onde nem percebemos.


       Não precisamos de nenhum misticismo para transformar a realidade. Não precisamos de heróis e de heroínas, precisamos de reais seres humanos. 

Para ver o vídeo, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=BjZ52Mlo9Fo

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Anotações enquanto meu pai está internado no hospital

O dia não raia

( Texto escrito em 13/11/2008 , por volta de 00h08min, na enfermaria do pronto-socorro do Hospital Walfredo Gurgel, enquanto acompanhava meu pai - que estava internado)

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       Eis que o dia năo raia. 


       Nesta insólita 01:30h da madrugada, em que a lâmpada é apagada, sondo as sombras das quais têm sido feitos esses dias últimos. A luz sequer está no fim do canal. Pode ser que esteja difusa. Eu năo a pressinto, mas muito a desejo. 



       Dez dias de escuridăo. O entorno năo oferece consolo. Um corredor de sofrimento à direita, outro à esquerda. Meu pai é lançado nesse vai e vem como uma marionete, cujo substrato é um monte de retalhos e espumas.



       Caminho pelos corredores como uma errante a procurar os próprios caminhos, a luz que esconde-se em cada esquina ou por trás de tantas cancelas.



       Procuro por năo sei mais o quę. Quem sabe năo encontre uma faísca acesa da paciência que perdi nesse bosque de sobeja perdiçăo?


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       Tantas pessoas. Pouco sentimento. O zelo do maior cuidado só existe entre os acompanhantes que tutoram atenciosamente seus entes queridos. Entre a maioria dos profissionais (poderiam ser assim chamados?) da saúde isso é um raro achado.

       As pessoas que por obrigaçăo devem exercer o ofício vestidas de branco, e por isso assemelham-se a anjos, contraditoriamente săo indiferentes a urros de dor, ao desespero, a lágrimas fabricadas pela incontinente desesperança.



       Nesse lugar onde tudo falta – copos, seringas, coletores de urina-, falta também o substancial. Falta profissionalismo. Falta respeito. Falta, sobretudo, amor.



       Se a dignidade năo for senhora absoluta de algum caráter, ela certamente é a primeira que esvai-se. E se ela vai embora, é o fim da criatura. Fica somente a sombra. Um magma de merda, como já foi escrito aqui antes.


       

       Almejo que o dia raie. Que a aurora floresça linda, fazendo-me ver cheiros multicoloridos, tocar visőes que acalantam, cheirar cançőes que enlevam o espírito...Enfim, ver as coisas ficarem como sempre foram. Se bem que a lágrima que agora rompe esta folha mostra que nada é imutável. Sofri um tombo no caminho escuro. A ida de minha avó interrompeu uma existência alegre, enérgica, jovial. Ela é a minha princesa elétrica. Nada fácil...


       Quem caiu de pára-quedas nessa selva deve ser mais forte do que a dor. Desdobrar-se e tripudiar dela, amassá-la e depois jogá-la com desprezo no bolso, senăo, sucumbe com o enfermo.



       Decerto que lá fora botőes de rosa florescem, trabalhadores da madrugada exercem seus labores, animados procuram agitaçăo, animais e homens entram na moita para acasalar e tudo o mais segue a sua normalidade até o amanhecer. Daqui a pouco é dia, mas aqui ele năo parece raiar. O sol năo foi pródigo em iluminar o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, essa selva perigosa e muito, muito, mas muito inabitável.



       De quem acompanha o pai convalescer na selva inóspita que é o HMWG.


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Obs.: Foram quase dois meses de internação. Meu pai recebeu alta no dia do seu aniversário: 19-12-2008. Glória a Deus!!!


Quinteto de Amor ao Militarismo

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Militar?
Limitar.
Mitigar.
Vomitar.
Arr! 


(de quem já regurjitou)






Denise Araújo Correia
Em 05/06/2008

Sobre homens de meia-idade

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Homens de Total Idade       



 (Obs.: Texto escrito em 14-08-2008 e recuperado da internet. Publicado no www.substantivoplural.com.br)

     
        O poeta Paulo Benz ensaiou um constructo e tratou com leveza um assunto às vezes preterido, às vezez posto à tona: homens de meia-idade. Ainda que tendo um cunho marcadamente idiossincrático, achei que o texto acaba emergindo de uma boa parte do sentimento mais geral. 


       Todavia, mesmo com todos os esclarecimentos de Benz, a pergunta ecoa: Homens de meia-idade? Creio que não. Pressinto que o mais correto seria homens de “total-idade”, e não pela pretensa “totalidade”, mas justamente pela fusão do ser que abarca experiência e a espera de um devir se não profuso, mas substancial, porque curto. 



       Olha, mesmo sabendo que serei muito subjetiva, expresso aqui um apanhadozinho do que pensam minhas amigas, algumas moçoilas de vinte e poucos anos e que passam mal ao ver os tais homens de meia... Rs. Homens mais jovens dificilmente - não contem com a fresca e rósea aparência - têm algum substancial atrativo que tome a mulher não apenas em seus extintos, mas em seus entendimentos. O máximo que conseguem é evidenciar um físico mais salutar, harmonioso, desejável. São meros mancebos. Os homens mais velhos, ao contrário, atraem não pelo que aparentam ou realmente são, mas pelo prolongamento disso, pela abstração, pela esperança de maturidade e sensibilidade que a pele rugada, o olhar seguro e os fios brancos guardam. Esperamos mais de quem tem mais idade. A lógica é essa. Simples assim. Quem está nessa faixa etária não se ufane muito, pois muito do que nós mulheres amamos em vocês, pode ser mera fantasia, não nego.



Outro motivo é que parece haver uma maturidade precoce e natural das mulheres, o que nos leva a procurar alguém equivalente, que no caso do homem corresponderia sempre a um mais velho. Perceber certas garotas ensaiarem ofícios de mulher (seja no trabalho, nas relações inter-sociais, nos namoros, nas decisões importantes) em plena adolescência, não parece feito difícil. No outro sexo, isso é mais rarefeito. 



Certa feita, uma amiga psicóloga (da linha psicanalítica) mencionou-me sobre uma teoria defendida por Freud, a de que a mulher sempre procura no seu parceiro características físicas, psicológicas e comportamentais do pai. De pronto eu questionei. Acho que discordei também. Levantei o caso de meninas que não têm uma boa relação com os pais, que os consideram verdadeiros antiexemplos. Ela contra-argumentou dizendo que estas procuram no companheiro aquilo que o pai não foi, ou seja, continuam procurando pelo pai, mesmo às avessas.



       Feita a digressão, volto ao texto de Paulo Benz no ponto em que ele comenta uma campanha televisiva encenada por Chico Anysio. Não recordo de tal momento e não sei de seu teor, mas pelas dicas que deu sobre a temática, relacionei instantaneamente a um pequeno texto do Charles Chaplin, que reflete sobre essa gênese bem particular, a de começar da velhice. Transcrevo:



“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o  verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar  novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando….E  termina tudo com um ótimo orgasmo!!! Não seria perfeito?”



       Pode até ser que o tal texto global tenha a autoria de Chico Anysio, mas tenho enorme prazer e contentamento em brindar e encerrar minha opinião com um texto de Charles Chaplin, que também foi um grande pensador e poeta.

domingo, 26 de março de 2017

Perdoai, eles não sabem o que fazem?

Perdoai, eles não sabem o que fazem?


Por Denise Araujo

“Novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros. Como eu amei a vós, assim também deves amar uns aos outros.
João 13.34


#Umbanda #Respeito #FE #Religiao #AUmbanda

               
            Havia um centro de macumba perto de casa. Bairro de subúrbio, sabe como é que é. As casas todas emendavam-se erroneamente. Era uma fila de casebres que fazia sobressair uma casa maior aqui e acolá. Na minha mente de menina, eram mansões: eu sublimava as coisas. Casas grandes não permitiam ver o que tinha dentro delas. Não permitiam incomodá-las e isso era empolgante para mim, moradora de um cantinho ínfimo e precário. Da porta da minha casa o transeunte já prenunciava toda a rotina da família. Meu sonho era ter um quarto só meu. Dormia com meus pais no único quarto que tínhamos. Ao crescer e ficar maiorzinha, passei a dormir na cozinha; e quando jovem, na sala. O quarto próprio só veio na idade adulta. Antes disso, privacidade era luxo.
            Falar daquele cantinho pouco aprazível, onde morei até poucos anos atrás, é só a desculpa para introduzir um texto que pretende ser um convite tímido ao amor. Tímido, mas ainda assim, um convite. Pois bem. Continuemos na casinha que era só mais uma em meio às outras. Mas o centro de macumba não. Ele era um dos lugares que destoava, pois era maior, e aos olhos de uma criança, infinito de grande. Havia sessões às sextas-feiras e aquela batucada toda dos ritos naturalmente chamava a atenção daquela meninada solta e desocupada na rua. Cheios de energia (e de ruindade, obviamente. Kkk), estávamos nós, eu e meus amigos, toda semana indo lá atrapalhar o ritual dos pobres praticantes. Ficávamos longos minutos, um a um, olhando no buraco da fechadura. Quando os pais e as mães de santo começavam a cantar ou ministrar suas rezas, nós começávamos a gritar ensandecidos pelo buraco do trinco da porta, até que vinha alguém enfurecido nos enxotar. Era a hora de esticar as canelas e correr. Mas tínhamos energia e achávamos pouco. Voltávamos e repetíamos tudo, e de novo, e de novo. Essa fase durou um considerável tempo. Imaginem como aqueles ritualistas nos amavam?


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Até eu, que tinha um temperamento mais introspectivo e apagado, ia na onda da maioria, porque queria me divertir nas raras vezes em que mãe deixava-me sair. Sim , é natural as crianças no subúrbio  terem certa independência e ficarem soltas nas ruas, nos idos dos anos noventa. Contudo minha mãe era páreo duro, não dava liberdades ou permissões regularmente. Nessa época eu tinha ódio. Hoje só agradeço por ela ter sido cautelosa assim. Mais tarde muitos foram os assassinatos de colegas de infância, o envolvimento com tráfico de drogas e com outros crimes, as prisões, as prostituições, enfim. Nas décadas de oitenta e noventa os tempos eram outros. Hoje a chapa é quente. Apesar das Quintas sempre ter sido um bairro tipicamente periférico e como tal viver uma realidade humana muito particular, na qual o pior às vezes vira mera rotina, hoje há uma escalada maior da violência, de modo que não é salutar deixar os filhos livres das vistas dos pais, confiando em ruas aparentemente tranquilas ou em vizinhança solidária. Como consensua a sabedoria popular, o “ seguro morreu de velho”.

A repreensão pura não faz verão. Era advertida a não ir importunar os pobres pais de santo, mas não era educada conscientemente em casa a respeitar a individualidade alheia, quiçá de um grupo ou de uma cultura, quiçá de um rito religioso em um país legalmente laico. Meus pais deram-me seguramente aquilo que puderam em suas condições, não podiam mais. Com baixa escolaridade e sobreviventes de uma vida muito dura, não há muito o que se fazer. Eu compreendo, e hoje sei que a educação pelo exemplo foi a pedra fundamental para mim. Era um ser pra dentro. Religiosa. Rezava terços. Adorava uma procissão e preparei-me para ser noviça, entretanto não sabia como lidar com o diferente. Tudo que não emulasse o Deus cristão, as imagens dos santos ou a “Pietá” de Michelângelo – com o cristo morto e nu nos braços, renegava sumariamente. Era ocultismo. Estava longe de saber que a intolerancia religiosa é um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humanas. Como as explicações sobre o diferente não me vieram a tempo, eu perturbei, e perturbei muito. Minha mãe hoje é amiga da dona do tal centro e, mesmo quase trinta anos depois, sinto vergonha de abordar e dizer que eu era uma das tais maritacas do passado. Felizmente isso mudou e ficou no passado infante. O conhecimento pode ser libertador.


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É necessário no mínimo saber que a liberdade de culto no Brasil é assegurada pela Declaraçao Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal, no seu Art. 5, inc. VI. Além, disso, Por força desses dispositivos constitucionais, diz-se que o Brasil é um Estado laico, ou seja, o país é legalmente obrigado a permitir a liberdade religiosa. Hoje respeito e reputo saudável a existência dos diversos credos, bem como a falta deles também. Em nosso caso, entretanto, é cotidianamente difícil fazer valer a lei nesse aspecto. Percebe-se que parcela da população tem sofrido drasticamente com a intolerância, principalmente as religiões oriundas da África, como Candomblé e Umbanda. Não era apenas de mim, quando criança, que religiões e ritos como a macumba sofriam rejeição, o que leva a pensar que o Estado precisa agir educativamente para reforçar esses valores de respeito. Ministério da Educação, juntamente com governos federal, estadual e municipal podem e devem investir numa educação religiosa que abranja o ensino de diferentes religiões nas escolas, a fim de formar crianças e adolescentes mais respeitosos e conscientes.

            Segundo a Rede Brasil Atual, o Brasil possui atualmente estimados 160 milhões de cristãos, ou 80% da população. Nessa conta entram evangélicos, católicos e  espíritas. Não bastasse a intolerância religiosa, o país tem amargado outras intolerâncias. O cristianismo prega valores humanos como a paz, a tolerância e a solidariedade, portanto seria coerente que formasse declarados cristãos em pessoas de no mínimo boa vontade. Exemplificando com um acontecimento recente, vemos a repercussão da morte da ex-primeira-dama  Marisa Letícia, falecida no dia 03-02-2016 vitimada por um AVC. A internet foi o ambiente para mensagens veiculadoras de ódio ( algumas citando o nome de Deus para justificá-las), passando bem distantes de valores como pesar, luto ou compaixão pela dor alheia, que comumente uma sociedade cristã e culturalmente avessa à morte costuma gerar. Segundo Aline Ogliari, secretária nacional e coordenadora da Pastoral da Juventude, as manifestações sobre Marisa Letícia na história recente revelam um caso emblemático: “Perder a capacidade da compaixão, da sensibilidade, da convivência com o diferente, numa perspectiva política, mostra que a gente chega a um estágio de fascismo político, mostra que para ‘minha ideia’ aparecer eu tenho que aniquilar o que é diferente.”

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Intolerantes religiosos, cristãos que não seguem os preceitos declarados de sua religião e fascistas que não têm pudor de demonstrar desejos cruéis de aniquilação ou anulação do próximo. Poderíamos naturalmente perguntar o porquê disso. Incoerência? Falta de perspectivas? Irracionalidade? Maldade intrínseca? Perda do amor? Incompetência para a sensibilidade? Sugiro que não respondamos de pronto tais perguntas. Tentemos o caminho socrático, fazer dessas algumas questões filosóficas com as quais deveremos nos preocupar talvez até a exaustão, pois não é possível viver em uma sociedade equilibrada e harmoniosa com crasso número de pessoas demonstrando graus patológicos de incivilidade.
            Ainda segundo Aline Ogliari, o país assiste a uma "perda da sensibilidade, da capacidade de convivência com o diferente, o que, no caso, é um ataque a Lula, uma figura simbólica e a tudo o que representa a figura do Lula. Por isso a mídia hegemônica bate em cima do jeito que bate e a classe média e a falsa burguesia também batem. O ataque é à figura simbólica que o Lula representa na luta de classes.”  A crítica política é um exercício democrático. Nos últimos anos, foram constantes as críticas que os movimentos sociais fizeram aos governos do PT, por exemplo, o que é muito natural. Numa visão mais ideologicamente à esquerda, acreditou-se num projeto de país com suas reformas estruturais finalmente colocadas para atender o povo, ou seja, um mesmo partido ou ideologia pode receber críticas de seus consortes, aliados  e opositores. Os diálogos políticos devem urgentemente ser encarados como saudáveis – e não como espaços indesejados, aprofundador de animosidades ou, o que é pior, de litígios pessoais, posto que são parte da convivência democrática. A política prescinde disso. A política é isso, aliás. Como diria o barroco Gregório de Matos, que escreveu sobre os prazeres mundanos e espirituais: “ O todo sem a parte náo é todo, a parte sem o todo não é parte, mas se a parte o faz todo, sendo parte, não se diga que é parte, sendo todo”.  O debate é coletivo, é desgastante. Evidencia as contradições e dissonâncias. Prescinde de saber ouvir, aceitar que o argumento alheio pode ser superior, rever conceitos. Obviamente não é simples. Entretanto não fazê-lo tem um preço muito alto. As instituições e os governos amadurecem a passos muito lentos e por vezes até deixam de evoluir. É necessário interromper a lógica descrita pelo professor de Ética e Filosofia Política da USP, Renato Janine, segundo a qual no Brasil não há tradição de dissonância.


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Já ouviu falar de seres humanos que foram isolados em florestas como cobaias de estudos científicos e tornaram-se criaturas bem diferentes de nós, selvagens como os animais da selva? Pois é. Nós não estamos nesse bioma. Vamos aprender a nos virar por aqui mesmo. Demover nosso medo ou nossa indisposição para conversar. O que não é “natural” é o caminho que o país está seguindo, confundindo diálogo com ataques declarados. Os ataques à Marisa Letícia, por exemplo, são inconcebíveis de acontecer em um país que declara-se majoritariamente cristão, hodiernamente e no decorrer de toda sua história. O cristão que não ama está desobedecendo a Cristo. Simples. Somos chamados a amar no primeiro mandamento do decálogo, portanto é uma ordem. A quem declara-se cristão e não ama, caberia a reflexão: Está realmente tendo temor a Deus?
            Ora, o amor é uma característica distintiva de Deus. Se nós o amamos, também temos que amar o nosso próximo. As palavras sagradas sugerem uma relação de implicação. Mas podemos não saber quem é esse próximo que devemos amar. Podemos, inclusive, usar isso como desculpas para nossa falta de amor no geral ou em relação a alguém. E a própria bíblia aponta que o nosso próximo é qualquer pessoa que necessita da nossa ajuda. Quem ama ora, intercede e pede a Deus para abençoar aqueles que estão em sofrimento, mesmo que eles tenham nos prejudicado de alguma forma. Eis a grandeza. Dizia o papa João Paulo VI: “ Quando olhamos ao homem com amor, já chegamos às fronteiras de Deus; porque esse homem que amamos e respeitamos é imagem de Deus. E então, não custa cumprir o primeiro dos mandamentos. Tanto é assim, irmãos, que nossa ocupação na eternidade será essa: amar, glorificar, ser felizes com Deus nosso Senhor.”

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Por fim, é precioso recordar as palavras do beato mártir Oscar Arnulfo Romero (1917-1980), arcebispo de San Salvador. Pastor e  defensor dos direitos humanos, que foi assassinado enquanto celebrava a Santa Missa: "Hoje a palavra de Deus nos convida à interioridade. ‘O Reino de Deus está dentro de vós’. Vivemos muito fora de nós mesmos. São poucos os homens que de verdade entram dentro de si, e por isso há tantos problemas, porque se de verdade nos colocássemos em nossa própria intimidade compreenderíamos que a voz do Senhor, a lei que nos santifica, não está lá nas alturas do céu somente. De que serviria, nos dizem os documentos da Igreja, mudar todas as estruturas sociais, políticas, econômicas, se não se muda o coração dos que hão de viver e manejar estas estruturas? Enquanto os que se preocupam dos problemas não entrarem dentro de si e desde seu próprio coração escutarem a palavra de Cristo, que nos diz terminantemente ante o doutor da lei que lhe pergunta qual é o principal mandamento: ‘Amarás ao Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda tua alma, com todas as tuas forças, com todo teu ser”, de nada adiantaria  mudanças exteriores’.”

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            Se há algo que permite alguém nascer em uma realidade desfavorável rodeada de restrições ser resiliente com as dificuldades e formar-se um bom humano é a resiliência (explicação sociológica), o propósito divino (explicação religiosa) ou o amor (explicação minha mesmo); de outra forma o que faz alguém com história de vida inversa, e portanto mais feliz, com necessidades para a dignidade atendidas e envolto de bons referenciais humanos tornar-se alguém incivilizado é algo obscuro para mim.

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Penso que, para além de uma educação religiosa, educar para o amor e o respeito sejam o caminho mais seguro. Foi o que aconteceu comigo, não pela via intelectual, mas do exemplo. Eu olho para minha mãe e, de tão virtuosa que ela é, sei de imediato  como devo ser  e o que fazer. O sentimento de amor soterra preconceitos e dilata o olhar para a compaixão. Exemplo mais fundador o nosso ousado Jesus não poderia ter deixado, uma vez que sentava-se à mesa com pecadores;  acolheu Maria Madalena – conhecida como libertina e portadora de sete demônios - como discípula, fê-la primeira testemunha da ressureição e elogiou a veracidade da samaritana, que estava no sexto marido (algo escandaloso para a época); bem como defendeu uma mulher adúltera da violência dos fariseus.
Os cristãos já conhecem  (talvez os  não cristãos também, tal o lastro cultural do cristianismo no ocidente) : nós fomos escolhidos não apenas para a realidade ou mítica de viver uns anos neste mundo e depois ir para o céu. Cristãos receberam uma missão, que foi a de anunciar o Evangelho de Jesus e expressar o amor de Deus para a humanidade. Se sua prática religiosa ou espiritual não se transfigura empiricamente em amor, é hora de parar e refletir. O amor é o único que pode transformar o mundo, verdadeiramente.

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Amor entre cachorro e dono é o mesmo que entre mãe e filho, segundo pesquisa japonesa

            Você tem um animal de estimação? Já olhou profundamente nos olhinhos dele e sentiu-se derretido? Teve a impressão de que er...